Os fanzines gozam de toda a liberdade que possibilita o descompromisso com o mercado editorial. Fanzine não visa o lucro, não tem por meta a superação progressiva do público cada vez maior e diversificado. Cada editor é um mundo e o fanzine é a representação de sua idiossincrasia. Nesse universo particular e personalizado encontra-se a passionalidade pelo objeto de culto ou mesmo o interesse em opinar sobre algum tema específico, em geral ligado a arte.
A troca de informações é primordial e a experimentação gráfico-textual quase que uma característica indissociável da edição do fanzine. Nesse aspecto encontra-se a expressão artística personificada em poemas, ilustrações e quadrinhos, o próprio projeto gráfico e visual como a expressão de certa visão estética e espacial do editor. Para alguns, mesmo o formato faz parte dessa ciranda criativa, cujas experimentações proporcionam soluções que se aproximam do origami, as formas lúdicas das dobraduras de papel.
É temerário classificar os fanzines em gêneros e formas. Mesmo o termo fanzine tem se reinventado constantemente, perdendo o significado de magazine de fã e para fã, para chamar-se apenas zine, epíteto a representar uma cultura jovem, mutante, inventiva e insubmissa aos condicionantes estruturais. Como classificar, então, os fanzines em seu aspecto formal, entendendo-se aí o tamanho, o número de páginas, o sentido da apresentação? Não são poucos os fanzines que não seguem padrão nenhum, não só em relação a outros títulos do gênero como dentro de sua própria série de publicação.
Na diversidade estética dos fanzines, alguns chamam atenção. Motivados pela necessidade urgente de comunicação, que leva em conta a expressão da mais latente pessoalidade, os “minizines” despontam como as mais despretensiosas publicações, circulando quase anônimas e aleatórias. Os “minizines” – e aqui arriscamos uma classificação, ainda que na heterogeneidade – são pequenas publicações em fotocópias, de baixíssimo custo e tiragens quase confidenciais.
É como se fosse um capricho, uma vaidade, uma vontade de se fazer presente e ouvido – ou lido – seja por quem for, uma forma de sair do anonimato mantendo-se de todo modo praticamente anônimo. Afinal, não é mostrar-se que importa, mas semear ideias e inquietações.
O “minizine” define-se evidentemente pelo formato. Muitas vezes não passa de uma folha A4 impressa dos dois lados, mas não se trata de um panfleto, trata-se por vezes de um folder, que tira proveito das dobras que sugerem o direcionamento da leitura. Dobrando-se uma folha uma, duas, várias vezes, obtém-se uma publicação com formas inventivas de abertura, de desenho, de composição e de leitura, que vão dar o diferencial a esse tipo de fanzine.
A diagramação do “minizine”, com toda sua carga de criação, exige um planejamento complexo, com textos e imagens que se dispõem em vários sentidos, para proporcionar a leitura lógica e fluente. É um exercício de expressão textual e imagética e, sobretudo, de design na concepção do produto editorial.
Ainda que o “minizine” conte com duas ou três folhas dobradas e grampeadas como uma revista convencional, seu formato reduzido é um diferencial a encantar a maioria dos leitores, que veem nesse tipo de publicação um objeto-arte, quase um brinquedo, um jogo manipulável pleno de caminhos e prováveis descobertas. Nesse aspecto o fanzine adquire um potencial lírico que transcende a qualquer objetividade da comunicação.
Henrique Magalhães