Modo de produção

Henrique Magalhães

Fontes

Existe ao menos duas maneiras de se conseguir informações para a edição do fanzine: por meio de fontes bibliográficas, como revistas, jornais, livros e atualmente internet; pelo acesso às fontes inéditas, que são as entrevistas, conversas com personalidades, arquivos particulares, correspondências e produções originais cedidas pelos autores. Para a fundamentação de artigos e pesquisas, é importante que se tenha um bom acervo com tudo o que circula sobre o tema escolhido.

A coleta do material é uma das fases mais trabalho­sas da produção do fanzine. Muitas pessoas que poderiam colaborar com artigos, quadrinhos ou ilustrações já possuem seu próprio fanzine e não têm tempo e interesse em participar de outros. A pesquisa sobre coleções de revistas exige tempo, paciência e um trabalho minucioso na busca de informações espalhadas por dezenas ou até centenas de publicações.

Quanto maior o ineditismo do material publicado no fanzine, mais valor terá para o público, ansioso por novas informações. Em geral o fanzine é uma publicação opinativa e pouco noticiosa. Como sua publicação depende de vários fatores, inclusive de largo tempo, as notícias tendem a ficar defasadas quando publicadas no fanzine. Contudo, há fanzine que tem sua força exatamente na republicação de conteúdo, fazendo algo como um clipping de matérias publicadas em jornais. Esse tipo de fanzine é importante por recolher informações dispersas sobre um mesmo tema, fazendo uma espécie de dossiê, que é muito útil para novas investigações.

Seleção do material

Feita a pesquisa ou coleta do material é preciso se­lecionar o que vai ser publicado. Convém planejar o fanzine com coerência e uniformidade, embora muitos editores optem justamente pela mistura desordenada como estilo para sua publicação. Alguns fanzines de quadrinhos são verdadeiros inventários sobre a trajetória de publicações como a revista Gibi ou o Suplemento Juvenil, ou sobre personagens, como Fantasma, Spirit, O Amigo da Onça, entre outros, que já mereceram edições especiais.

A publicação de material inédito exige certo cuidado. É recomendável que se use ­cópias e não os trabalhos originais, de modo a não se colocar em risco as obras dos autores. Com a facilidade de transmissão de dados pela internet, a maioria dos autores não envia mais cópias impressas, mas em arquivos digitais.

Composição e ilustração

A composição do fanzine é feita em computador, utilizando-se qualquer programa gráfico que se tenha à disposição, a exemplo do Adobe InDesign; raramente se encontra algum feito em máquina datilográfica, como era comum nas décadas de 1970 e 1980.

Antigamente as ilustrações passavam pelo pro­cesso de redução ou ampliação em fotocopiadoras, de acordo com o espaço que iriam ocupar nas páginas. Para a editoração eletrônica, pode-se copiar as imagens com o auxílio de um scanner e inseri-las nas páginas, reduzindo-as ou ampliando-as com facilidade e de acordo com a necessidade.

Paginação

Há bem pouco tempo, os fanzines eram feitos com colagens, com a distribuição dos textos e ilustrações pelas páginas. Este procedimento era chamado de paginação. Com a editoração eletrônica, feita com programas de computador, o processo tornou-se muito mais dinâmico e limpo.

Para a paginação ou a editoração eletrônica, é recomendável ter um projeto da publicação ou diagramação – divisão das páginas em duas ou três colunas, espaço para títulos e ilustrações, escolha da tipologia etc. – e programar uma boneca da publicação, que é um esboço de como deverá ser a edição, onde se define o número de páginas e o espaço a ser ocupado por cada matéria.

Impressão

A maioria dos fanzines é impressa em foto­cópias. Ao contrário dos mimeógrafos, esse tipo de impressão, além de ser relativamente ba­rato, possibilita a utilização de fotos e ilustrações. Também são feitos fanzines em impressoras offset de mesa, que nem sempre alcançam a qualidade das boas fotocopiadoras.

A escolha do processo de impressão tem relação com a tiragem e o custo da publicação. Para as pequenas tiragens, a fotocópia é o recurso ideal. A impressão offset só se torna viável para as grandes tiragens, que possibilitam a redução do custo unitário da publicação. Alguns editores recorrem a duplicadoras, que são as substitutas do mimeógrafo eletrônico. O custo de impressão delas é baixo, mas a qualidade nem sempre se equipara aos outros tipos de impressão.

Há também a possibilidade de impressão em impressoras laser, que oferecem cópias de excelente qualidade e baixo custo. Por outro lado, as “gráficas rápidas” estão cada vez mais difundidas no país, oferecendo um custo razoável para quem pretende fazer pequenas tiragens.

Intercalação

O fanzine tem sua produção quase sempre artesanal. A intercalação, ou encadernação das folhas para formar a brochura, é feita também pelo editor. Depois da intercalação, o grampo é colocado no dorso do fanzine – no caso do for­mato ofício – ou a cavalo, quando a folha é do­brada ao meio.

É raro que os fanzines apresentem corte de acabamento, o chamado refilamento. A maioria tem seu formato determinado pelo processo de impressão – na fotocópia, o formato ofício ou A4. Quando o editor faz cortes é porque planejou um formato diferenciado para o fanzine.

Distribuição e venda

Os fanzines podem ser vendidos ou distribuídos em livrarias especializa­das, feiras, shows ou ex­posições. Mas o principal meio de circulação e venda é pela via postal, que faz com que eles alcancem todo o país e mesmo outros cantos do mundo. Para os que são produzi­dos nas pequenas cidades, os Correios e a venda de mão em mão são as únicas opções. Para tanto, é importante a organização de uma agenda com o endereço de leitores, que se pode obter por intermédio de outras publicações e editores.

Divulgação

Os melhores difusores dos fanzines são os próprios fanzines. As dificuldades de divulgação na grande imprensa e o objetivo compartilhado por todos os editores fazem com que eles sejam solidários entre si e abram espaço no fanzine para o anúncio de outras publicações congêneres.

Cabe aos editores aproveitar o eventual espaço de informações aberto pelas revistas e jornais do mercado, considerando ainda que a seção de cartas dessas publicações é um bom local para o anúncio de novas edições. Por intermédio das revistas comerciais é possível ampliar o público, atingindo leitores que se encontram fora do circuito independente.

A internet, com várias possibilidades de interação, tornou-se um poderoso meio de difusão dos fanzines. Uma boa lista de email, o perfil em redes sociais, a criação de blogs e sítios são fundamentais para se obter uma comunicação imediata com o leitor e ampla divulgação do fanzine.

Referência

MAGALHÃES, Henrique. O rebuliço apaixonante dos fanzines. Série Quiosque, 27, 2a. ed. João Pessoa: Marca de Fantasia, 2011.

Arquivo de texto: Modo de produção-texto
Slides: Modo de produção-slides

Publicidade

Sobre Henrique Magalhães

Jornalista, professor, editor e autor de História em Quadrinhos
Esse post foi publicado em Modo de produção e marcado . Guardar link permanente.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s